sexta-feira, 20 de abril de 2012

Tranquei


Essa aqui também tava no We Heart It.
E naquele dia, numa sala de aula da faculdade, percebeu que estava fazendo tudo errado. Como assim, que contas eram aquelas? A moça acabou percebendo também que nem sabia o que estava fazendo. Deixara seus sonhos sumirem com o tempo, não lutara, estava acomodada. "E tão jovem, fazendo isso!", pensou. Trancaria a faculdade em algum momento, com certeza: Matemática não era para ela. Justo ela, que não se importava com fatores alterando produtos, nem tratores alterando viadutos, e sim que bela história daria aquilo tudo?
Desde pequenininha sabia o que ia ser: escritora, sem nem pensar em outra coisa. Como havia se deixado levar por aquele curso tão diferente do que gostava? Como se apertaria num terninho elegante e apresentaria um milhão de equações mostrando algo como economia para os diretores de uma empresa?
Chegou em casa e logo foi perguntada pela mãe sobre a faculdade.
- Não volto lá mais, não. Teve confusão. Com polícia e tudo.
A mãe, surpresa, apenas balançava a cabeça, pedindo mais detalhes.
- Sabe aquela polícia que fica dentro do coração? Aquela lá que cuida dos desejos e sonhos e às vezes coloca eles numa prisão? Então, os meus disseram que a minha prisão estava muito cheia e ia custar muita felicidade pra trancafiar mais sonhos lá dentro. Disseram também que um anônimo pagou a fiança do sonho de ser escritora.
- E o emprego, espertinha?-Disse a mãe, já não tão surpresa. Estava irritada com o jeito de poetisa da filha.
- Continua o mesmo. Fazer meio-período na venda do Seu Zé não precisava da faculdade. Ah, hoje não vou querer comer um lanche. Vou estar ocupada escrevendo mais, quero mandar algo para a editora. E vai ser à moda antiga.-Ao terminar de dizer, sorriu.
A vida era complicada, sim. Mas eram momentos como aquele que não podiam ser engolidos por essa complexidade que todos têm mania de impor. Às vezes trancar uma faculdade e tentar outras algum dia é o maior bem que alguém faz para a vida.
-Então trancou a faculdade mesmo?-Perguntou a mãe, numa reza em segredo para ser uma pegadinha e a filha mostrar o caderno com um resumo de 5 folhas sobre a aula do dia.
-Não diria trancar... soltei. Algum dia uma pessoa pega pra ela, pode ver. Coisa trancada só deixa a gente triste.
E então a mãe viu que não adiantava mais nada. A filha era cabeça duríssima, cheia de teimosias, para quê lutar contra? Além disso, lá no fundinho essa mãe sempre torceu pela felicidade de sua filha. Se essa era a felicidade... "Vai entender?", pensou a mãe. "Jovens... eu ficava com as contas, mas se ela prefere escrever eu não posso fazer nada.", completou. Continuou a cantar uma música baixinho enquanto secava os pratos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário